sábado, 29 de março de 2014

II Congresso Internacional da Faculdades EST

Sob o tema amplo “Religião, mídia e cultura”, o II Congresso Internacional da Faculdades EST pretende refletir a partir das diferentes áreas do conhecimento e, em especial da Teologia, sobre o papel da religião na cultura, assim como sobre o papel da cultura na religião, a partir do contexto latino-americano e brasileiro, nossos dramas e nossas paixões.



Evento
No meu país posso detectar a existência de dois impulsos importantes para a compreensão de cultura. O primeiro é o que se poderia chamar de apolíneo. Este depende principalmente da razão, da ordem, da medida, da correção e quase sempre da simetria. Neste sentido a cultura é o que aprendemos nas escolas, na família, nas igrejas por meio de estudo, pesquisa e experimentação transformados num corpo de conhecimento e de doutrinas... [...] Mas há outro impulso cultural muito forte no Brasil. Trata-se do impulso dionisíaco. Este nível de cultura expressa-se principalmente nas classes populares e se relaciona muito mais com as emoções do que com o intelecto. É visível em festivais populares como carnaval, procissões religiosas, partidas de futebol, cultos pentecostais e carismáticos e terreiros das religiões de origem africana. Tais eventos dão ênfase à imaginação, à dança, à fantasia e à música.[1]

[1] MARASCHIN, Jaci. Da leveza e de beleza: liturgia na pós-modernidade. São Paulo: ASTE, 2010. p. 20-21.
Sob o tema amplo “Religião, mídia e cultura”, o II Congresso Internacional da Faculdades EST pretende refletir a partir das diferentes áreas do conhecimento e, em especial da Teologia, sobre o papel da religião na cultura, assim como sobre o papel da cultura na religião, a partir do contexto latino-americano e brasileiro, nossos dramas e nossas paixões. Em especial, queremos olhar esta relação a partir do chamado fenômeno da midiatização da cultura, entendendo a mídia, mais do que mero meio, como mensagem (McLuhan), simulacro e simulação (Baudrillard) do que pressupomos ser a realidade. Em que medida a cultura e a mídia são hoje também uma expressão religiosa? Em que medida a mídia influencia o campo religioso e as suas tradições? O que está embutido nestas relações todas?

Sabemos que esta relação não é uma relação neutra e despretensiosa. Nunca foi. Há claros interesses de toda ordem, principalmente política, econômica, social e religiosa, que determinam as condições e os impactos da relação. Ao mesmo tempo, nos meandros e nas brechas da relação, algo acontece e espaços de resistência podem ser pensados e articulados.

Tomemos como exemplo o evento da Copa da FIFA, no Brasil, que tem o elemento cultural do futebol, e que a mídia diz ser uma paixão brasileira. Em que medida o próprio futebol não se caracterizaria como uma expressão religiosa e, em que medida, a controvertida Copa do Mundo não estaria assumindo aspectos do religioso? O mesmo zelo, esforço e investimento empreendido na construção dos grandes templos medievais, no passado, são usados hoje na construção de arenas e estádios de futebol, por exemplo. Se estas suspeitas empíricas se confirmam, qual seria o impacto deste fenômeno nas religiões institucionalizadas, como a Igreja? O que tem a Teologia, enquanto voz profética, a ver com o futebol, com a Copa do Mundo e tudo o que circula em torno deste evento esportivo, cultural e midiático, mas também comercial e político?

Uma outra questão que o tema carrega. Pensar a religião na interface com a cultura e a mídia, como fenômeno cultural, não é algo novo. Queremos, portanto, mais que isto. Pensar a religião a partir da interface é reconhecer que não temos campos fechados e seguros, apolíneos, como diria Maraschin. Qualquer pensar relevante acontece justamente, dionisiacamente, na interface, na relação, nas beiradas do mundo, na margem da vida. Segundo DaMatta, é impossível pensar cultura, pelo menos no nosso contexto, de forma linear, com um princípio, um meio e um fim. Cabe-nos, sim, a tarefa de nos pensarmos como um drama, complexo, paradoxal, onde papéis se confundem e histórias e dilemas coabitam num mesmo território. O mesmo podemos dizer a respeito da religião. A mídia, parece colocar toda esta complexidade dramática no ar, virtualmente em cena. Por isso, mais do que temas relacionados, queremos pensar os temas na própria relação, nos inter-, trans- e muti-espaços do pensamento e da própria vida, na busca por respostas, sim, mas talvez, principalmente, na busca pelas melhores perguntas.

Queremos refletir estas e tantas outras questões que o tema nos faz pensar no II Congresso Internacional da EST. Organizamos para isto quinze simpósios temáticos nas mais diferentes áreas e com ampla temática, com mesas-redondas, comunicações, além de palestras com pesquisadores de renome, cine-fórum, salão de pesquisa, apresentações culturais, exposições, espaços interativos, entre outras propostas. Haverá ampla oportunidade, apoiada por uma infraestrutura montada especificamente para o Congresso, de encontro, discussão, planejamento, fomentando criatividade e inovação com qualidade e aprofundamento.

Esperamos cerca de 500 participantes do Brasil, América Latina, América do Norte, Europa, África do Sul, para estar conosco no nosso belo campus, no Morro do Espelho, em São Leopoldo/RS, e região.

As inscrições para comunicações e participação abrem em março de 2014.

Seja bem-vindo, bem-vinda!
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terça-feira, 18 de março de 2014

GTHRR na ANPUH 2014


017. História, Religiões e Religiosidades
Coordenadores: GIZELE ZANOTTO (Doutor(a) - Universidade de Passo Fundo), VITOR OTÁVIO FERNANDES BIASOLI (Doutor(a) - Universidade Federal de Santa Maria)

Resumo: Este simpósio objetiva discutir questões relacionadas às temáticas das religiões e religiosidades pelos vieses teórico-metodológico e/ou empírico. Neste sentido, salienta a fluidez do campo religioso brasileiro, em suas múltiplas composições, e avalia a atual situação dos vínculos denominacionais em nossa sociedade, a partir da divulgação de estudos sobre o tema. O simpósio pretende ser um espaço de socialização de pesquisas que versem sobre questões relativas ao binômio sagrado/profano, formas de crer e vivenciar as práticas religiosas, sistematizações doutrinárias, organização interinstitucional, interelações de crentes e instituições com a sociedade em geral, bem como as formas de utilização de reflexões sobre práticas religiosas como responsável por alternativas de negociação e preservação de identidades culturais/étnicas.

Justificativa: O simpósio proposto se insere na problemática de ampliação do GT Nacional de História das Religiões e Religiosidades também em nosso estado, assim como proporcionar aos pesquisadores da área um espaço de discussão, atualização e problematização conjunta sobre as formas de perceber, analisar e compreender os fenômenos religiosos no mundo contemporâneo. No bojo da consideração da importância desta instância na vida dos agentes históricos, o Simpósio também vem dar conta de uma temática cada vez mais explorada na academia e que aponta para análises profícuas para o entendimento do contexto sócio-histórico brasileiro e, em especial, rio grandense.

Bibliografia: 
BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulinas, 1985.
BOURDIEU, Pierre. A dissolução do religioso. In: Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 119-125.
______ A Economia das Trocas Simbólicas. 5ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2003.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer. 8ª edição. Petrópolis: Vozes, 2002.
HOORNAERT, Eduardo (Org). História da Igreja na América Latina e no Caribe. 1945-1995. O debate metodológico. Petrópolis: Vozes, 1995.
HOUTART, François. Mercado e Religião. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
ISAIA, Artur César. Catolicismo e Autoritarismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
LAGREÉE, Michel. Religião e tecnologia: a benção de Prometeu. Bauru: EDUSC, 2002.
LÖWY, Michael. A guerra dos deuses: Religião e política na América Latina. Petrópolis: Vozes, 2000.
MANOEL, Ivan Aparecido. História, Religião e Religiosidade. Revista Brasileira de História das Religiões, Ano I, no 1, Dossiê Identidades religiosas e história. Disponível em: < http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/index.html>
SANCHIS, Pierre. O campo religioso será ainda hoje o campo das religiões? In: HOORNAERT, Eduardo (Org). História da Igreja na América Latina e no Caribe. 1945-1995. O debate metodológico. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 81-131.
______O campo religioso contemporâneo no Brasil. In: ORO, Ari Pedro. STEIL, Carlos Alberto (Orgs). Globalização e Religião. Petrópolis: Vozes, 1997. p. 103-115.
SEGALEN, Martine. Ritos e Rituais contemporâneos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
WEBER, Beatriz Teixeira (Org.) ; ZANOTTO, Gizele (Org.) . Religiões e Religiosidades no Rio Grande do Sul - volume 2: espiritismo e religiões mediúnicas. 1a.. ed. São Paulo/SP: ANPUH, 2013. v. 1.
ZANOTTO, Gizele (Org.) . Religiões e Religiosidades no Rio Grande do Sul (Volume 1). 1. ed. Passo Fundo: PPGH/UPF, 2012.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Nova edição de Revista Cultura y Religión

Estimados lectores:

Con mucho orgullo y satisfacción presentamos el volumen VII, Nº2 de la Revista Cultura y Religión titulado "Religión, política, espacio público y laicidad en Brasil", coordinado por los profesores Ricardo Mariano (Universidad de Sao Paulo) y Ari Pedro Oro (Universidad Federal de Rio Grande del Sur). Los artículos de este dossier son los siguientes: 

1) Religião, laicidade e secularismo: um debate contemporâneo (Paula Montero)
2) O que é um ambiente laico? Espaços (inter)religiosos em instituições públicas (Emerson Giumbelli)
3) Discursos pentecostais em torno do aborto e da homossexualidade na sociedade brasileira (Maria das Dores Campos Machado)
4) Estado laico no Brasil: entre sofismas e ambiguidades (Júlia Miranda)
5) A invocação do nome de Deus nas Constituições Federais brasileiras: Religião, política e laicidade (Cesar Alberto Ranquetat Júnior)
6) Sobre a permanência e a naturalização do catolicismo na esfera pública no Brasil: O caso de uma escola municipal (Marcelo Ayres Camurça e Sueli Martins)
7) Meandros da força política evangélica no Brasil (André Ricardo de Souza)
8) Definições de laicidade no debate público sobre o ensino religioso (Janayna de Alencar Lui)
9) Cultura religiosa e direitos humanos no cotidiano do legislativo brasileiro (Tatiana dos Santos Duarte)
10) La religión en el espacio público (Roberto Cipriani)

Este volumen además se completa con la reseña de Eric Morales Schmuker al libro La rotativa de Dios: prensa católica y sociedad en Buenos Aires: El Pueblo, 1900-1960 de Miranda Lida.
 

sexta-feira, 7 de março de 2014

DOSSIÊ: Literatura religiosa na América: circulação e recepção.


Organização: Prof.a Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck (Universidade do Vale do Rio dos Sinos -RS); Prof. Dr. Mauro Dillmann (Universidade do Vale do Rio dos Sinos - RS).

http://seer.bce.unb.br/index.php/hh/announcement/view/208


Importantes estudos sobre livros, leitores e leituras já foram realizadas pelo historiador Roger Chartier desde a década de 1980. Na Europa, publicações sobre práticas de leitura não são temas novos. Além de Chartier, Anthony Grafton, Reinhard Wittmann, Martyn Lyons, Fernando Bouza, Robert Darnton e Jean-François Gilmont também se dedicaram ao tema, com diferentes objetos e enfoques. Sobre a literatura religiosa, vale destacar os trabalhos de Dominique Julia, Ana Cristina Araújo e Olímpia Maria da Cunha Loureiro. No Brasil, historiadores como Luiz Carlos Villalta, Lúcia Bastos Pereira Neves, Márcia Abreu e Marisa Deaecto também têm se dedicado ao estudo das práticas de escrita e de leitura, enfocando o período colonial e o imperial. Contudo, o estudo das práticas de leitura, de circulação e de recepção da literatura religiosa produzida na Península Ibérica nas distintas regiões da América Portuguesa e Espanhola ainda é tema pouco explorado no Brasil, mas aos poucos vem ganhando espaço e interesses de pesquisadores, como Cláudia Rodrigues, Marília de Azambuja Ribeiro, William de Souza Martins, Magda Maria Jaolino Torres e Juliana Beatriz Almeida de Souza. Na Europa dos séculos XVII e XVIII, profundamente marcada pelo espírito contrarreformista, difundiu-se a produção de literatura religiosa, com destaque para manuais de devoção, catecismos, missais, compêndios, breviários, obras edificantes, vidas de santos e livros de orações, cuja intenção era a de orientar moralmente seus leitores, ensinando-os também a se preparar para a morte. Sabe-se que durante os séculos XVI, XVII e XVIII cabia à Igreja a autorização da publicação e também o incentivo à leitura de obras de teologia moral pelos fiéis, que não deveriam ficar restritas aos padres. Esta função recebeu incremento significativo durante o papado de Pio IX (1846-1878), que se caracterizou pela republicação de obras de cunho religioso. Na América portuguesa do Seiscentos e do Setecentos, as obras eram adquiridas tanto por leigos, quanto pelo clero secular e pelas ordens religiosas, com destaque para os jesuítas. Tal literatura poderia fazer parte de acervos de igrejas, seminários, irmandades, bibliotecas de ordens religiosas, favorecendo a propagação de instruções católicas para uma vida santa. No século XIX, com a vinda da Corte e a instalação da Imprensa Régia, a publicação e divulgação de obras com conteúdos religiosos foi bastante ampliada. A circulação dos textos, como nos lembra Chartier, não se reduz a sua difusão impressa, estando especialmente ligada a sua divulgação, que por estar condicionada, muitas vezes, a imposições e expectativas, determina usos plurais e, consequentemente, graus distintos de imitação e apropriação. A leitura – em sua dimensão coletiva –, segundo este mesmo autor, pode ser pensada como uma relação dialógica entre os “sinais textuais” emitidos pela obra e o “horizonte de expectativa”, coletivamente partilhado, “que governa sua recepção”. A recepção de tais obras está, portanto, associada à avaliação dos efeitos socioculturais que elas tenham produzido na sociedade. Se a leitura pode ser compreendida a partir da “atualização” do texto, um processo no qual o leitor opera a compreensão, reconstrói e traduz para si, a recepção – a atribuição de significado e construção de sentido – depende do contexto em que o texto está inserido, bem como da forma em que se apresenta disponível para a leitura. Para Michel de Certeau, as possibilidades de recepção estão relacionadas ao espaço e ao tempo, implicando distintos interesses, criações e significações. O texto permanece o mesmo, mas seus sentidos, certamente, mudam ao longo do tempo e das republicações. Nesta perspectiva, a literatura religiosa produzida – e reeditada – pode ser percebida como resposta às demandas de seu tempo e, portanto, associada à recepção esperada em cada contexto. Este Dossiê permitirá a divulgação de trabalhos de pesquisadores que têm se dedicado à análise das práticas de escrita e de leitura de literatura religiosa produzida na Europa dos séculos XVI, XVII e XVIII – com destaque para Portugal, Espanha, França e Inglaterra – e, ainda, na América portuguesa, espanhola e franco-anglo-saxônica dos séculos XVIII e XIX.