sábado, 9 de março de 2013

Que Papa os católicos querem?


Santidade, credibilidade, responsabilidade, carisma, amabilidade e uma série de características são essenciais para montar o perfil do novo líder de uma instituição milenar, a Igreja Católica Apostólica Romana

Créditos: News.va
Que Papa os católicos querem?
A partir de terça-feira, 12, os 115 cardeais com direito a voto devem escolher o novo líder da Igreja Católica. A data do conclave foi marcada na sexta-feira e o novo Papa será escolhido quando obtiver 2/3 dos votos. A escolha do novo Papa depois da renúncia de Bento XVI, que passou a ser considerado Papa Emérito, é um momento histórico para a Igreja Católica. O mundo está com os olhares voltados ao Vaticano. Mas, qual o perfil que deve ter o novo Papa? O novo líder da igreja católica terá a responsabilidade de dar continuidade ao legado dois mil anos da Igreja, de levar a evangelização, de ser convidativo, comunicativo e representar uma imagem de credibilidade, responsabilidade e espiritualidade. 

O historiador Rodrigo Coppe Caldeira, professor da PUC – MG, diz que o perfil buscado é aquele que mescle o carisma de João Paulo II com a profundidade teológica de Bento XVI, uma tarefa difícil, segundo o professor. “O novo Papa, também precisa ser um comunicador, com entrada e compreensão da mídia e das novas mídias e redes sociais, ter linguagem clara, convidativa; ter experiência profunda de Deus e capacidade de escuta, ter conhecimento profundo da Cúria Romana, seus problemas e coragem e vontade política para levar adiante as reformas necessárias. Também vigor físico é necessário para um papa dos tempos atuais,” disse.

Já Dom Antônio Carlos Altieri, Arcebispo de Passo Fundo, destaca que o perfil do novo Pontífice deverá centrar-se na liderança, além de ser uma pessoa com grande coração e santidade, para que assim, possa enfrentar os impactos das contra marchas do mundo. Sobre a possibilidade da escolha de um líder com perfil mais transformador, Dom Altieri considera os valores que a Igreja prega, sempre voltados à defesa da vida humana. “Um Papa nunca irá ceder a valores que fogem ao que a Igreja prega para ser popular, isso não vai acontecer. Mas é evidente que diante da situação que a Igreja se encontra caberá uma troca de ideias. Se chegar a conclusão que caberá a valorização da cultura, então a escolha se dará em um perfil que atenda essa formação. Se descobrirem que nesse momento o que mais choca é a questão econômica, a desigualdade social, a pobreza e a fome, tem que encaminhar quem está a frente da Cáritas mundial, ou que vive em países mais pobres, então são vários aspectos para analisar.”, disse.

O perfil do novo Papa deve ser uma pessoa que saiba dialogar, mas levando a palavra da Igreja é o que afirma o Padre Mateus Danieli, da Catedral Nossa Senhora Aparecida,. Segundo ele, Bento XVI conseguiu fazer isso, porém foi mal interpretado, pois as pessoas imaginam que dialogar significa aceitar e acatar tudo que elas querem, mas o dialogo para um Papa significa saber levar a palavra da Igreja para a sociedade, apenas transmitir a opinião da instituição.

Para a Irmã Amélia Weschenfelder, coordenadora das pastorais na comunidade do Colégio Notre Dame, o Papa devia ser uma pessoa de Deus e voltada ao povo, que entenda a sociedade, a nova situação da família e que possa dar uma resposta religiosa para toda essa situação que a Igreja enfrenta. “Ele deve ser uma pessoa de grande abertura e de visão ampla. Ele pode ajudar para trazer novas diretrizes para conduzir o povo de Deus e para conservar os seus fiéis. Deve atender as inspirações de Deus e do espirito santo e deve escutar a voz do povo e de toda a pirâmide que conduz a igreja, para que ela passe pelos caminhos mais seguros. O Papa deve ser uma pessoa carismática, pois isso atinge o povo”, completa a Irmã. A Ir. Amélia integrou um grupo de Ir. de Notre Dame que discutiu a espiritualidade e a evangelização no ano passado, em Roma.

Não se deve esperar mudanças fundamentais, mas apenas modificações mais externas, de ser de se comunicar, aspectos da organização do modo de apresentação publicamente, a legalizar da cúria, agilizar a forma de governo com sistemas mais modernos e mais rápidos, ressalva o professor de Teologia e Filosofia do IFIBE e do ITEPA, Padre Alexander Mello Jaegr. Contudo frisa que naquilo que é fundamento, a fé a doutrina, não haverá mudanças.

Amor
O amor é uma característica fundamental, resalta Padre Mateus, para conduzir a instituição e para transmitir isso para a sociedade. “Precisamos de uma pessoa que tenha essa postura de amabilidade, que manifeste seu amor, seu carinho com a sociedade. Além disso, precisamos de uma pessoa que venha conduzir a Barca de Vidro que tenha esse amor, o amor que Cristo teve,” disse. Ainda destaca que o amor é importante para entender a nova estrutura que a sociedade vem assumindo.

“Mão Forte”
A historiadora e professora do curso de história da UPF, Gizele Zanotto, observa a escolha do novo Papa através de dois vetores. O primeiro deles é pulso para dirigir uma instituição que passa por problemas sérios relacionados a escândalos políticos, financeiros e sexuais. Por isso, a necessidade de reordenar os elementos da sua estrutura interna. Por outro lado, Zanotto ainda chama atenção para o trânsito religioso constante. “A queda no número de fiéis, de multiplicação de grupos e congregações internas que procuram dar conta das demandas dos crentes a partir de novas propostas de vivência e significado da fé, entre outros, são situações nada simples que demandam do novo pontífice um posicionamento referente à dinâmica e a legitimidade da Igreja em uma perspectiva de gestão a médio e longo prazos”, afirma. Assim, o novo pontífice terá de ser sensível a ambas as realidades para dar conta de situações sérias que demandam posicionamentos e soluções. Com isso, o maior desafio, é dar conta das realidades internas e externas, locais e mundiais, estruturais e teológicas, estatais e subjetivas nas quais uma postura simplista pode ser incompatível, insustentável e mesmo incoerente.

Missão
Padre Alexander, destaca a resposabilidade que o Papa deve ter, pois erstará a frente de uma instituição milenar, uma das instituições mais antigas que conhecemos e com uma presença no mundo fortíssima. "É preciso levar em conta que a cada seis pessoas no mundo uma é católica, são mais de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas católicas no mundo. Então o Papa tem a responsabilidade de dirigir e passar uma bagagem milenar, a Igreja contribuiu para a construção do mundo e para solidificar uma série de valores. A ética, por exemplo, é um dos valores construídos em cima dos valores evangélicos, a manutenção da escrita foi mantida graças a Igreja, pois os textos antigos foram reproduzidos através dos manuscritos, antes da existência da imprensa, então isso contribuiu para a continuidade e aperfeiçoamento da escrita. As primeiras universidades também foram criadas pela Igreja. Se não tivéssemos a Igreja não teríamos universidades. As organizações, a forma de organização politica, o conceito de direito, tudo está vinculado ao trabalho da Igreja de 2000 mil anos. A assistência, os hospitais, as escolas, a educação formal, orfanatos, todas essas organizações são heranças que a Igreja tem e o Papa terá que manter e administrar.

O historiador Rodrigo reforça isso, “a igreja possui uma longa tradição, um conhecimento sobre o ser humano, uma sabedoria de vida, que não podem ser jogados fora ou adaptados de maneira barata para agradar os fiéis e os possíveis fiéis,”. Desse modo, os dois estudiosos afirmam que é vital para a Igreja um Papa que preserve sua história e não perca a sua identidade. Rodrigo exemplifica, mostrando que se houvesse uma maior abertura, ou até mesmo adaptação por parte da instituição com comportamentos que as sociedades assumem no decorrer da história, ela teria desaparecido por completo. Mas ressalta, que isso não quer dizer que ela não se transforme. “Da mesma forma, se ela não se transforma, ela também pode virar museu,” afirma.

“As instituições religiosas em geral carregam uma aura de "tradição" que lhes implica simbolicamente serem portadoras de "verdades". Ao tornar tais "verdades" questionáveis, mutáveis, adaptáveis, desestabiliza-se o próprio edifício teológico que as sustenta e, em consequência, sua organização, estrutura, hierarquia, ritos e cultos - ao fim desse processo, se questiona a própria necessidade e existência institucional. Nesse sentido, entre a demanda pela mudança e a realidade de sua aplicação, há uma discrepância que longe está de ser resolvida, não tanto pela carga de tradição e “verdade”, mas pela infinidade de situações à qual a Igreja Católica, como entidade supranacional, teria de se adaptar.”, explica Gizele Zanotto.

O professor Pe Alexander, salienta que o Papa terá que afirmar apenas as concepções que a Igreja tem segurança. Algumas delas, hoje são apenas moda, que podem mudar. Assim o novo Pontífice tem o compromisso com a verdade e deve defender concepções, mas o principal é o compromisso com a verdade. Essa característica é uma das que faz a Igreja ser tão cobrada quando ela erra.

Uma nova perspectiva
Visando uma nova perspectiva, voltada à construção da solidariedade, Luiz Costella, coordenador da Caritas Diocesana de Passo Fundo, considera que para os organismos e pastorais sociais, bem como atuantes em obras sociais que a Igreja organiza e anima, seria importante que o novo Papa fosse um articulador de forças, visando a construção de um mundo com relações solidárias, incentivando as pequenas comunidades. A abertura ao ecumenismo, ao respeito pelas ideologias e as diferenças, são aspectos importantes para a Igreja observar. Assim o coordenador, ressalva que o perfil desse novo líder deve ser focado na humildade, na valorização de todos, inclusive daqueles que se afastaram da Igreja, e em especial as mulheres.

Fonte: O Nacional

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