Por Dermi Azevedo
Documento assinado por
teólogos como Leonardo Boff e o bispo d. Pedro Casaldáliga começou a ser
elaborado em outubro do ano passado, simultaneamente na Europa, América
Latina, EUA e Canadá. Texto diz que “Cúria Romana necessita de uma
reforma mais radical baseada nas instruções e na visão do Vaticano II”.
Já
chegam a duas mil as adesões de teólogos católicos de todo o mundo ao
documento publicado por ocasião dos 50 anos do Concílio Vaticano II e
cuja redação final está sendo encaminhada aos 115 cardeais que, a partir
de segunda-feira (4), começam a escolher o sucessor do papa Bento XVI.
O
manifesto começou a ser elaborado em outubro do ano passado,
simultaneamente, na Europa, na América Latina, nos Estados Unidos e no
Canadá. Entre os seus autores, estão incluídos Leonardo Boff e o bispo
d. Pedro Casaldáliga.
O
contexto de sua publicação (concebida em meio a uma grave crise na
Igreja, poucos meses antes da renúncia de Bento XVI) reforçou a decisão
dos teólogos de enviá-lo aos cardeais eleitores. Esta é a íntegra do
documento:
"Muitos
ensinamentos do Concílio Vaticano II não foram concretizados ou apenas
parcialmente traduzidos na prática. Isto é devido à resistência de
alguns ambientes, mas também sobretudo, em certa medida, à não resolvida
ambiguidade de alguns documentos conciliares. Uma das principais causas
da estagnação moderna depende do não entendimento e dos abusos no
exercício da autoridade na nossa Igreja. De modo concreto os seguintes
temas exigem uma urgente reformulação.
O
papel do Papado necessita de uma clara redefinição baseada nas
intenções de Cristo. Como supremo pastor, como elemento unificador e
principal testemunha da fé, o Papa contribui de modo essencial para o
bem da Igreja Universal. Mas a sua autoridade não deveria obscurecer,
diminuir nem suprimir a autentica autoridade que Cristo deu diretamente a
todos os membros do Povo de Deus.
Os
bispos são vigários de Cristo e não vigários do Papa. Eles possuem a
responsabilidade direta sobre o povo de suas dioceses e uma
responsabilidade compartilhada com os outros bispos e com o Papa, do
âmbito da comunidade universal da fé.
O
Sínodo central dos bispos deveria assumir um papel mais decisivo no
planejamento, na orientação e no crescimento da fé em nosso mundo tão
complexo.
Concilio
Vaticano recomendou a colegialidade e a corresponsabilidade em todos os
níveis. Isto não foi transformado em ação. Os vários organismos
presbiterais e conselhos pastorais previstos pelo Concilio, deveriam
envolver os fiéis de modo mais direto nas decisões relativas à doutrina
ao exercício do ministério pastoral e à evangelização no âmbito da
sociedade secular.
O
abuso de preencher os postos de guias da Igreja apenas com candidatos
com uma determinada mentalidade é algo que deveria ser eliminado. Em vez
disto, deveriam ser formuladas e monitoradas novas normas assegurando
que as eleições para estas tarefas sejam conduzidas de modo correto,
transparente e o mais democrático possível.
A
Cúria Romana necessita de uma reforma mais radical baseada nas
instruções e na visão do Vaticano II. A Cúria deveria limitar-se aos
seus úteis papéis administrativos e executivos.
A
Congregação para a Doutrina da fé deveria ser ajudada por comissões
internacionais de peritos escolhidos independentemente em função de sua
competência profissional. Essas não são todas as mudanças necessárias.
Devemos considerar ainda que a implementação dessas revisões estruturais
exigem uma elaboração detalhada e relacionada com as possibilidades e
com as limitações das circunstancias presentes e futuras. Destacamos
porém que as reformas sintetizadas a cima são urgentes e a sua
concretização deveria iniciar-se imediatamente.
O
exercício da autoridade na nossa Igreja deveria seguir o padrão de
abertura, responsabilidade e democracia encontrados na sociedade
moderna. A liderança deveria ser correta e confiável, inspirada na
humildade e no serviço, com uma transparente solicitude para com o povo,
em vez de se preocupar com as normas e a disciplina; anunciar Jesus
Cristo que liberta; ouvir o espirito de Cristo que fala e age por meio
de todos e de cada um".
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