segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Release do filme Habemus Papam - por Eliane Silva


Habemus Papam é um filme com argumento, roteiro, produção e direção de Nanni Moretti, que também participa como ator (ele é o psiquiatra ateu!). A história parece começar sinalizando uma inversão do Genesis: uma queda de luz. Na escuridão, um dos cardeais cai um tombo, literalmente vai ao chão. Escuridão e queda! E nem velas podem ser acesas. Por causa dos afrescos do julgamento de Michelângelo!
Quando a luz (elétrica) se refaz, surpreende os cardeais no maior pânico, rezando e suplicando (em silêncio!) a Deus: “Não me escolha Senhor! Não me escolha Senhor! Não me escolha Senhor!” (é que estão todos reunidos na Capela Sistina para escolher o novo Papa, uma vez que o antigo morreu!).
Mas, talvez, por não ter suplicado o suficiente ou com bastante fé, como os demais, a escolha acaba por recair no cardeal Melville. Para alívio de todos os outros (cardeais!). Melville, então, surpreso e sem saída, aceita o novo cargo pela pressão do olhar, da aproximação e da cantoria dos demais. Porém, infelizmente, não consegue evitar um ataque de nervos. Mais do que isso. Berra. Corre. Foge. Os companheiros chamam o médico. Depois um psiquiatra. E o psiquiatra é ateu.
Enquanto isso, o Vaticano comunica ao povo que o novo Papa já se encontra descansando em oração! Alguns que se julgam muito espertos (do povo e da imprensa) juram que o Papa eleito morreu de novo, mais uma vez. De certa forma, é verdade.
Seguem-se mais cenas interessantes. Como a do psiquiatra (que é ateu!), lendo passagens da bíblia para os religiosos e diagnosticando evidentes estados de depressão (nos trechos da bíblia). Ou de Sua Santidade fazendo sessões de terapia na frente de todos os cardeais, porque não é permitido ser de outra maneira. Do psiquiatra alertado para não instar o papa a falar da infância, da mãe ou de seus sonhos. Não pode! Ou quando o próprio Melville (o Papa eleito e que teve o ataque de nervos por isso) constata, andando de ônibus (em fuga do Vaticano!) que aqui fora é outro mundo e tem sido difícil para a igreja compreender certas coisas.
A história termina quando termina o conflito da pessoa do Papa. Ele, finalmente, vestido a rigor, aparece na sacada da Praça para ser saudado pelo povo, mas surpreende a todos com um discurso inédito e às avessas (da “Sandálias do Pescador”, por exemplo) . Ele diz, por fim: não sou capaz de suportar esse papel que me foi confiado, não tenho capacidade de liderar, mas de ser liderado, o guia que vocês precisam não sou eu.

Um comentário:

  1. Realmente um filme muito bom. Narrativa em tom de comédia e muito respeitoso em relação aos temas da Igreja Católica. Comovente, em diversos momentos. Melancólico também. Dramática a situação de crise vivida pelo cardeal escolhido para papa. Nada a ver com "As sandálias do pescador". Muito boa a associação com esse filme. Eram outros tempos, não é mesmo? Tempos de algumas certezas, isto é, certeza de que a Igreja poderia mudar.

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