Habemus Papam é um filme com argumento, roteiro, produção e direção de Nanni Moretti,
que também participa como ator (ele é o psiquiatra ateu!). A história parece começar
sinalizando uma inversão do Genesis: uma queda de luz. Na escuridão, um dos cardeais
cai um tombo, literalmente vai ao chão. Escuridão e queda! E nem velas podem ser
acesas. Por causa dos afrescos do julgamento de Michelângelo!
Quando a luz (elétrica) se refaz,
surpreende os cardeais no maior pânico, rezando e suplicando (em silêncio!) a
Deus: “Não me escolha Senhor! Não me escolha Senhor! Não me escolha Senhor!” (é
que estão todos reunidos na Capela Sistina para escolher o novo Papa, uma vez
que o antigo morreu!).
Mas, talvez, por não ter
suplicado o suficiente ou com bastante fé, como os demais, a escolha acaba por recair
no cardeal Melville. Para alívio de todos os outros (cardeais!). Melville,
então, surpreso e sem saída, aceita o novo cargo pela pressão do olhar, da
aproximação e da cantoria dos demais. Porém, infelizmente, não consegue evitar
um ataque de nervos. Mais do que isso. Berra. Corre. Foge. Os companheiros
chamam o médico. Depois um psiquiatra. E o psiquiatra é ateu.
Enquanto isso, o Vaticano comunica
ao povo que o novo Papa já se encontra descansando em oração! Alguns que se
julgam muito espertos (do povo e da imprensa) juram que o Papa eleito morreu de
novo, mais uma vez. De certa forma, é verdade.
Seguem-se mais cenas
interessantes. Como a do psiquiatra (que é ateu!), lendo passagens da bíblia
para os religiosos e diagnosticando evidentes estados de depressão (nos trechos
da bíblia). Ou de Sua Santidade fazendo sessões de terapia na frente de todos
os cardeais, porque não é permitido ser de outra maneira. Do psiquiatra
alertado para não instar o papa a falar da infância, da mãe ou de seus sonhos.
Não pode! Ou quando o próprio Melville (o Papa eleito e que teve o ataque de
nervos por isso) constata, andando de ônibus (em fuga do Vaticano!) que aqui fora é outro mundo e tem sido difícil
para a igreja compreender certas coisas.
A história termina quando termina o conflito da pessoa
do Papa. Ele, finalmente, vestido a rigor, aparece na sacada da Praça para ser
saudado pelo povo, mas surpreende a todos com um discurso inédito e às avessas
(da “Sandálias do Pescador”, por exemplo) . Ele diz, por fim: não sou capaz de suportar esse papel que me
foi confiado, não tenho capacidade de liderar, mas de ser liderado, o guia que
vocês precisam não sou eu.
Realmente um filme muito bom. Narrativa em tom de comédia e muito respeitoso em relação aos temas da Igreja Católica. Comovente, em diversos momentos. Melancólico também. Dramática a situação de crise vivida pelo cardeal escolhido para papa. Nada a ver com "As sandálias do pescador". Muito boa a associação com esse filme. Eram outros tempos, não é mesmo? Tempos de algumas certezas, isto é, certeza de que a Igreja poderia mudar.
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